Sistema Tegumentar


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1. Introdução


A pele e seus anexos epidérmicos (unhas, pelos e as glândulas sudoríparas, sebáceas e mamárias) formam o Sistema Tegumentar. A pele é a primeira barreira de proteção entre o corpo e o ambiente, atuando contra agentes biológicos, químicos e físicos que possam causar danos ao organismo.


Funções da pele

  • Proteção mecânica e defesa imunológica
  • Proteção contra os raios ultravioleta
  • Manutenção da temperatura corpórea
  • Sensorial
  • Excreção de sais
  • Síntese de vitamina D

Classificação da pele (tipos)

A pele é classificada em dois tipos:

  • Pele Espessa ou Grossa (palma das mãos e planta dos pés)
  • Pele Delgada ou Fina (recobrindo o restante do corpo)

Estrutura histológica da pele

As peles, espessa e delgada, apresentam a mesma estrutura geral de organização tecidual, sendo constituídas por três (03) camadas:

  • Epiderme – de origem ectodérmica – corresponde à porção epitelial
  • Derme – de origem mesodérmica - corresponde à porção conjuntiva
  • Hipoderme – de origem mesodérmica - corresponde à porção conjuntiva onde repousa a epiderme e a derme

As camadas epiderme e derme são mais desenvolvidas na pele espessa. O estrato lúcido, da epiderme, não é visualizado na pele delgada.

Alguns autores consideram a pele constituída apenas por duas camadas, a epiderme e a derme.

Figura 1 – Corte histológico de Pele Grossa evidenciando a epiderme (Tecido Epitelial de Revestimento Estratificado Pavimentoso Queratinizado), a derme (tecido Conjuntivo) e as glândulas sudoríparas.


2. Epiderme


São quatro (04) os tipos celulares que formam a epiderme:

  • Queratinócitos
  • Melanócitos
  • Células de Merkel
  • Células de Langerhans

Os tipos celulares da epiderme, na pele espessa, se distribuem em cinco (05) camadas (ou estratos):

  • Basal (ou germinativo)
  • Espinhoso
  • Granuloso
  • Lúcido
  • Córneo (ou queratinizado)

Distribuição dos tipos celulares na epiderme

Estrato Basal

Os queratinócitos são as células mais abundantes na epiderme e encontram-se distribuídos em todos os estratos. No estrato basal (germinativo) os queratinócitos estão dispostos em uma única camada de células e atuam como células fontes para a reposição das células perdidas na superfície do epitélio e também no reparo de lesões. Os queratinócitos da camada basal se fixam, através de hemidesmossomos, no tecido conjuntivo da derme.

Quando os queratinócitos se dividem (mitose), alguns permanecem na camada basal, sendo incorporados à população de células fontes, enquanto outros se diferenciam e migram para os estratos superiores (se distanciando do tecido conjuntivo da derme). As células que migram para os estratos superiores assumem a função de sintetizar queratina.

Além do queratinócitos, no estrato basal também se localizam os melanócitos e as células de Merkel. Os melanócitos tem origem a partir das células da crista neural que migram para a epiderme e desempenham a função de produzir melanina, pigmento que fornece cor à pele e aos pelos, e protege o organismo dos raios ultravioleta (fotoproteção).

Os melanócitos apresentam a região do núcleo celular localizado no estrato basal, entretanto, esse tipo celular apresenta muitos prolongamentos citoplasmáticos que alcançam os queratinócitos em diferentes estratos do epitélio. É através desses prolongamentos citoplasmáticos que os melanócitos transferem a melanina para os queratinócitos, aumentando assim a proteção da pele.

As células de Merkel, assim como os melanócitos, também tem origem a partir de células da crista neural. São células sensoriais e funcionam como mecanorreceptores, envolvidas na sensação tátil. Essas células matem contato com os queratinócitos e com fibra nervosa (mielinizada que se torna amielínica após alcançar a lâmina basal das células epiteliais).

Estrato Espinhoso

Essa camada é caracterizada pelos abundantes processos citoplasmáticas (em forma de espinho) dos queratinócitos. Os processos citoplasmáticos contêm feixes de filamento intermediário de queratina, os quais se inserem nos desmossomos e assim, matem a justaposição e a adesão entre os queratinócitos vizinhos.

A associação dos estratos basal e espinhoso é denominada de estrato de Malpighi, local onde são encontradas as células de Langerhans.

As Células de Langerhans (ou células dendríticas) se originam na medula óssea e apresentam muitos prolongamentos citoplasmáticos (denominados de dendritos). Esse tipo celular se distribui nos estratos basal e espinhoso (estrato de Malpighi) e atua como células apresentadoras de antígeno, expondo um corpo estranho aos linfócitos T e, desencadeando uma resposta imune. A apresentação do antígeno ao linfócito T, geralmente, ocorre em um linfonodo, localizado próximo ao local de penetração do corpo estranho. Assim, além da estratificação do epitélio e da melanina, a pele apresenta outra possibilidade de defesa com a ação das células de Langerhans.

Estrato Granuloso

No estrato granuloso os queratinócitos, dispostos em várias camadas, possuem grânulos citoplasmáticos contendo queratina e lipídeos (grânulos de querato-hialina) que conferem ao citoplasma intensa coloração basofílica. Ainda, nessa camada, os lipídeos são liberados dos queratinócitos para o meio intercelular, cuja função é atuar como substância cimentante entre as células epiteliais, conferindo maior adesão celular e também, uma barreira para água.

Estrato Lúcido

O estrato lúcido, localizado entre os estratos granuloso e córneo é caracterizado por queratinócitos que perderam o núcleo, com o processo de queratinização bem avançado. Esse estrato é evidente somente na pele grossa.

Estrato Córneo

O estrato córneo é formado por queratinócitos pavimentosos que perderam os seus núcleos, suas organelas e tornaram-se quase inteiramente preenchidos por filamentos de queratina. É a camada mais espessa da epiderme e constitui o principal componente da barreira hídrica.

À medida que os queratinócitos migram, do estrato basal para o estrato córneo, ocorre o processo de produção da queratina. As células se modificam de cubicas (no estrato basal) para pavimentosas (no estrato córneo). A epiderme é classificada como Tecido Epitelial de Revestimento Estratificado Pavimentoso Queratinizado.

Figura 2 - Corte histológico de Pele Grossa evidenciando as camadas celulares da epiderme. Camada Basal ou germinativa (seta branca) localizada mais próxima ao tecido conjuntivo da derme, Camada Espinhosa (seta amarela) onde se tem a impressão que as células apresentam um contorno mais claro (devido a grande quantidade de desmossomos), Camada Granulosa (seta azul) onde as células apresentam grânulos no citoplasma, Camada Lúcida (seta vermelha) representada por uma linha muito fina bem corada pela eosina e, Camada Queratinizada ou Córnea (seta preta) que corresponde as células mortas com o citoplasma preenchidos por queratina.

Figura 3 - Corte histológico de Pele Grossa evidenciando as camadas celulares da epiderme. Camada Basal ou germinativa (seta branca), Camada Espinhosa (seta amarela), Camada Granulosa (seta azul), Camada Lúcida (seta vermelha) e Camada Queratinizada ou Córnea (seta preta).


3. Derme


A derme corresponde ao tecido conjuntivo sobre o qual repousa a epiderme. O contato epiderme-derme (junção dermoepidérmica) é irregular, contendo saliências e projeções de um tecido no outro, formando as Papilas Dérmicas. As papilas dérmicas são mais frequentes em regiões submetidas a maior intensidade de pressão e atrito.

Para conferir proteção ao corpo, o tecido epitelial não pode se desprender do tecido conjuntivo. Para manter a adesão entre os tecidos há a presença de hemidesmossomos conectando a região basal dos queratinócitos da camada basal ao tecido conjuntivo adjacente.

A derme se divide em duas camadas:

  • Derme Papilar - localizada mais próxima ao tecido epitelial. Constituída por um tecido conjuntivo frouxo, rico em células e com menor conteúdo de fibras. Contém os vasos sanguíneos e nervos que vão suprir a epiderme. É o conjuntivo da derme papilar que constitui as papilas dérmicas. Ainda, por ser a derme papilar mais rica em tipos celulares do tecido conjuntivo, essa atua na defesa do organismo através da ação de células de defesa. Caso ocorra alguma lesão no epitélio, que venha a expor o tecido conjuntivo, as células de defesa do tecido conjuntivo contribuirão para conter a lesão e combater a penetração de microrganismos.
  • Derme Reticular - localizada abaixo da derme papilar e mais distante do tecido epitelial de revestimento da pele. Constituída por tecido conjuntivo denso, caracterizado por apresentar maior conteúdo de fibras em relação às células. As fibras da derme reticular são as colágenas (conferem resistência ao órgão) e as elásticas (conferem elasticidade ao órgão).


4. Hipoderme


A hipoderme, também denominada de camada subcutânea, é contínua com a derme reticular. Constituída por tecido conjuntivo e por células adiposas e apresenta espessura variável de acordo com a localização. Essa camada facilita a mobilidade da pele e contribui para o isolamento térmico, armazenamento energético (adipócitos) e no amortecimento de choques.



Vascularização e estruturas sensoriais da pele

A vascularização da pele, encontrada no tecido conjuntivo da derme e hipoderme, além de nutrir o tecido epitelial de revestimento e os anexos epidérmicos (unhas, glândulas, pelos) é também responsável pela termorregulação do organismo, permitindo modificação do fluxo sanguíneo, de acordo com a necessidade do corpo de conservar ou perder o calor.

Três redes vasculares são encontradas na pele:

  • Plexo Subpapilar - localizado na região da derme papilar
  • Plexo Cutâneo – localizado no limite entre a derme papilar e a derme reticular
  • Plexo Hipodérmico (ou subcutâneo) – localizado na hipoderme da pele

As estruturas sensoriais encontradas na pele se classificam de acordo com o estímulo ao qual respondem, dos quais vamos abordar os: Mecanorreceptores, Termorreceptores e Nociceptores.

Os mecanorreceptores respondem às deformações do tecido e podemos caracterizar quatro (04) tipos:

  • Corpúsculo de Merkel – localizado na junção dermoepidérmica, se relaciona aos toques finos. A terminação nervosa do corpúsculo de Merkel se adere às células de Merkel, localizadas no estrato basal da epiderme.
  • Corpúsculo de Meissner – também denominado de corpúsculo tátil, se localiza na derme papilar e tem a função de detecção de formas e texturas.
  • Corpúsculo de Ruffini – localizado na porção profunda da derme detecta o estiramento da pele, a sensação do tato quando se segura um objeto, além de controlar a posição e o movimento dos dedos.
  • Corpúsculo de Pacini – localizado na porção profunda da derme ou na hipoderme, responde aos estímulos de pressões profundas.

Os termorreceptores – respondem ao estímulo de temperatura – calor ou frio.

Os nociceptores – respondem ao estímulo da dor.

Além das estruturas sensoriais, é importante registrar que o suprimento nervoso da pele é composto de:

  • terminações periféricas dos nervos sensoriais
  • terminações nervosas para a musculatura dos vasos sanguíneos
  • terminações nervosas para os músculos eretores dos pelos
  • terminações nervosas para o controle das glândulas sudoríparas

5. Anexos epidérmicos da pele

Os derivados epidérmicos que serão abordados abaixo são:

  • Folículos Pilosos e Pelos
  • Glândulas Sebáceas
  • Glândulas sudoríparas (Écrina e Apócrina)

Folículos pilosos e pelos

  • Folículos pilosos são responsáveis pela produção e crescimento do pelo. O folículo piloso se forma pela proliferação das células epiteliais do estrato basal da epiderme, quando estimuladas por moléculas sinalizadoras sintetizadas pelos fibroblastos localizados na derme adjacente.
  • Enquanto as células epiteliais (em proliferação) se aprofundam na derme, o tecido conjuntivo invade a porção basal do conjunto de células proliferadas, formando a papila dérmica.
  • Na região onde a papila dérmica se formou (região basal do folículo piloso, parte profunda da derme) as células epiteliais da camada basal se proliferam lateralmente formando o bulbo piloso (ou bulbo folicular). O bulbo piloso corresponde à porção final e expandida do folículo piloso.
  • Para que ocorra a formação do pelo, a papila dérmica nutre e estimula a proliferação celular da parte profunda do folículo piloso. As células em proliferação são os queratinócitos e melanócitos que estavam localizados no estrato basal da epiderme. Com esse estímulo ocorre a formação do pelo, no interior do folículo piloso.
  • O pelo é uma estrutura queratinizada constituída por: cutícula, córtex e medula (a medula do pelo está presente somente em pelos espessos, sendo ausente em pelos finos). A coloração do pelo é realizada pela transferência de melanina, a partir do melanócitos que proliferaram durante a formação do folículo piloso.
  • O folículo piloso é envolvido por tecido conjuntivo, o qual encontra-se associado ao músculo eretor do pelo (músculo liso).
  • Os folículos pilosos e pelos estão ausentes na pele grossa e também nas regiões laterais dos dedos, na glande do pênis e no clitóris.

Figura 5 - Corte histológico de Pele Fina. A imagem permite evidenciar várias estruturas: Epiderme (seta amarela), derme (tecido conjuntivo), folículo piloso (seta vermelha), pelo (seta azul), glândula sebácea (seta verde).

Figura 6 - Corte histológico de Pele Fina. A imagem permite evidenciar a epiderme (seta amarela), derme (tecido conjuntivo), folículo piloso (seta vermelha), pelo (seta azul), glândula sebácea (seta verde) e glândula sudorípara (seta branca).

Glândulas Sebáceas

As glândulas sebáceas desempenham a função de secretar o sebo, composto rico em lipídeos que atua na lubrificação da pele e dos pelos e impede a perda excessiva de água.

São glândulas exócrinas, constituídas por porção secretora (localizada na derme) e por ducto excretor (que se abre no epitélio de revestimento do folículo piloso). Entretanto, em algumas regiões do corpo (lábios, glande do pênis, pequenos lábios vaginais, mamilos) o ducto excretor se abre diretamente na superfície da epiderme.

Figura 7 - Corte histológico de Pele Fina. A imagem permite evidenciar a epiderme (seta amarela), derme (tecido conjuntivo), folículo piloso (seta vermelha), pelo (seta azul), glândula sebácea (seta verde) e glândula sudorípara (seta branca).

Figura 8 - Corte histológico de Pele Fina. A imagem permite evidenciar a epiderme (seta amarela), derme (tecido conjuntivo), folículo piloso (seta vermelha), pelo (seta azul) e glândula sebácea (seta verde).

Figura 9 - Corte histológico de Pele Fina. A imagem evidencia a associação entre o folículo piloso e as glândulas sebáceas.

Glândulas Sudoríparas (Écrina e Apócrina)

As glândulas sudoríparas são exócrinas, secretam o suor e se classificam em dois (02) tipos: Écrinas e Apócrinas.

Glândula Sudorípara ÉCRINA

A porção secretora se localiza na derme sendo composta por três (03) tipos celulares:

  • Células Claras – secretam a maior parte de água e eletrólitos que compõe o suor.
  • Células Escuras – secretam glicoproteínas das quais muitas atuam na defesa do organismo.
  • Células Mioepiteliais – através da contração auxiliam na eliminação da secreção.

O ducto excretor se abre no Tecido Epitelial de Revestimento (Epiderme).

Glândula Sudorípara APÓCRINA

A porção secretora se localiza na derme e na hipoderme e apresenta ácinos maiores do que os das glândulas sudoríparas écrinas. Os ductos excretores se abrem no epitélio do folículo piloso.

As glândulas Apócrinas sofrem ação dos hormônios sexuais e tornam-se ativas a partir da puberdade. O produto de secreção contém proteína, carboidrato, amônia, lipídios e outros compostos orgânicos que podem desenvolver odor ácido através da ação bacteriana. Essas glândulas encontram-se distribuídas nas axilas, aréolas, na pele ao redor do ânus e na genitália externa.

Figura 10 - Corte histológico de Pele Fina. A imagem evidencia as diferenças estruturais entre as glândulas sebáceas e as glândulas sudoríparas.

Figura 11 - Corte histológico de Pele Fina. A imagem evidencia as diferenças estruturais entre as glândulas sudoríparas écrinas e as glândulas sudoríparas apócrinas.


  • Os queratinócitos (da epiderme e dos folículos pilosos), as glândulas sudoríparas e sebáceas secretam as Proteínas Antimicrobianas Epiteliais (AMPs) que atuam para inativar e/ou destruir microrganismos.
  • Dentre as AMPs podemos citar as β-defensinas e as catelicidinas, que atuam na lise da parece celular e da membrana plasmática de microrganismos.
  • Várias patologias dermatológicas são associadas a produção deficiente das Proteínas Antimicrobianas Epiteliais.


NÃO ESQUECER...

Camada Mucosa: Tecido Epitelial + Tecido Conjuntivo que reveste uma luz que faz contato com o ambiente (meio externo).
Camada Serosa: Tecido Conjuntivo + Tecido Epitelial de Revestimento Simples Pavimentoso (mesotélio) que reveste superfície de órgãos que estão voltadas para as cavidades do corpo.
Camada Adventícia: Tecido Conjuntivo que une órgãos e estruturas. Ausência de Tecido Epitelial.
Estroma: tecido conjuntivo de preenchimento e sustentação do órgão.
Parênquima: tecidos e estruturas que correspondem a porção funcional do órgão.

Como citar?

Fávaro LF, Silva LF, Tanamati LW, Schramm MVP, Moretti R. Histologia de Órgãos e Sistemas – Texto e Atlas. Sistema Tegumentar. Acessado em (data). Disponível em https://histologiatextoeatlasufpr.com.br/index.php/sistema-tegumentar/

Bibliografia Utilizada

1- JUNQUEIRA LC., CARNEIRO J. Histologia Básica 13ª Edição. Editora Guanabara Koogan, 2017.

2- KIERSZENBAUM AL., TRES LL. Histologia e Biologia Celular: Uma Introdução a Patologia. 4ª Edição. Editora GEN Guanabara Koogan, 2016.

3- KIERSZENBAUM AL., TRES LL. Histologia e Biologia Celular: Uma Introdução a Patologia. 5ª Edição. Editora GEN Guanabara Koogan, 2021.

4- PAWLINA W., ROSS MH. Histologia Texto e Atlas - Correlações com Biologia Celular e Molecular. 7ª Edição. Editora GEN Guanabara Koogan, 2016.

5- STEVENS A., LOWE JS. Histologia humana. 4ª edição. Editora GEN Guanabara Koogan, 2016.